Renato Grandelle | O Globo
Em meio às negociações emperradas da Conferência do Clima (COP-19), em Varsóvia, um estudo do Projeto Carbono Global (GCP), divulgado ontem, mostra que as emissões de gases-estufa geradas pela queima de combustíveis fósseis e a produção de cimento atingiram 35 bilhões de toneladas de CO2, um valor recorde.
Trata-se de um índice 58% maior do registrado em 1990. No ano passado, as emissões de C02 foram 2,2% maiores do que em 2011. Estima-se que, com o ritmo atual, a liberação de gases-estufa este ano será 2,1% maior do que em 2012. A China responde por 70% do aumento de emissões entre 2011 e 2012. Na potência asiática, a liberação de CO2 cresceu 5,9% no ano passado.
— O país precisa mudar sua posição — condena Glen Peters, co-autor do novo relatório do GCP.
— É a nação que mais libera gases-estufa do mundo. Emite sete toneladas de CO2 por habitante, mais do que a União Europeia, e, seguindo o ritmo atual, passará os EUA até 2025. Apesar do investimento chinês na construção de hidrelétricas e outras fontes renováveis, 68% de sua energia ainda vêm do consumo de carvão.
A substância, segundo o relatório, foi responsável por 43% das emissões globais no ano passado, e pode demorar décadas até que seu uso seja reduzido. Aliada do Brasil, a China defende em Varsóvia a responsabilidade histórica de cada país nas emissões de CO2. Os países desenvolvidos rejeitam o debate. Para os EUA, a proposta negligencia a contribuição atual dos países em desenvolvimento na liberação de gases-estufa. Além da China, a Índia é uma das maiores poluidoras do mundo — suas emissões cresceram 7,7% entre 2011 e 2012.
— O plano da responsabilidade histórica depende de muitos aspectos — avalia Peters. — Precisaremos calcular quanto cada país emitiu. Mas a partir de que ano começaria esta conta? Além disso este projeto não baixaria suficientemente as emissões de C02. Para a coordenadora da Câmara de Clima do Conselho Empresarial Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável, Raquel Souza, os países desenvolvidos recusam- se a calcular suas emissões porque, desta forma, perderiam espaço no mercado para as nações em desenvolvimento.
— Se as nações desenvolvidos assumem compromissos mais ambiciosos, isso implica, em um primeiro momento, custos mais elevados para a economia. Desta forma, elas perderiam competitividade para as nações em desenvolvimento — destaca. Alguns negociadores, reunidos na Polônia, acreditam que a COP-19 não trará avanços para a assinatura de um tratado em Paris, em 2015. O documento deve estabelecer um limite para a emissão de gases-estufa em cada país.
ACORDO ‘INEVITÁVEL’ NO FUTURO
O diretor do Programa de Mudanças Climáticas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Osvaldo Stella, acredita que o acordo global é “inevitável, mas a longo prazo”. Mesmo daqui a dois anos, portanto, a comunidade internacional não chegará a um consenso. — o modelo de negociações é lento, e existe uma polarização considerável entre países desenvolvidos e em desenvolvimento — lembra.
— Mas as mudanças climáticas chegarão a um ponto em que uma reação será fundamental, quando os prejuízos econômicos aumentarem. Os últimos meses, segundo Stella, foram marcado pelo retrocesso no debate ambiental. Os EUA reduziram as emissões de C02 com a crescente adoção do gás de xisto, mas esta fonte energética pode levar à contaminação dos lençóis freáticos.
O Japão, por sua vez, alega que o fechamento de usinas nucleares e o acidente em Fukushima, em março de 2011, obrigaram-no a abandonar suas metas de redução de emissões. Entre 2011 e 2012, a liberação de C02 no país cresceu 6,9%. — EUA e Japão mostram como países-chave para a discussão climática estão se reacomodando — alerta o diretor do Ipam. — São cenários novos que agravam problemas antigos.
PAÍSES DEVEM ‘PENSAR NO VIZINHO’
Em vez de metas obrigatórias, as nações desenvolvidas estimulam a proposta de que cada país firme seus próprios limites de redução das emissões. O plano foi condenado pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que chegou ontem à conferência.
— Não podemos perder tempo — condenou, acrescentando uma recomendação aos governantes: — Planejem pensando não apenas em seu país, mas também em seus vizinhos. Além de Ban Ki-moon, ministros de diversos países aterrissaram em Varsóvia, em busca de um acordo que, nos próximos três dias, salve a conferência. Para os negociadores, um dos pontos que serão mais debatidos na reta final da COP-19 será o Fundo Verde.
Países em desenvolvimento cobram um financiamento para que consigam adaptar-se às mudanças climáticas. As nações desenvolvidas comprometeram-se a doar US$ 100 bilhões por ano até 2020 para isso. E uma quantidade irrisória, segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). O órgão estima que apenas a África precisaria de US$ 200 bilhões por ano até 2070 para resolver seus problemas de infraestrutura.
— É a nação que mais libera gases-estufa do mundo. Emite sete toneladas de CO2 por habitante, mais do que a União Europeia, e, seguindo o ritmo atual, passará os EUA até 2025. Apesar do investimento chinês na construção de hidrelétricas e outras fontes renováveis, 68% de sua energia ainda vêm do consumo de carvão.
A substância, segundo o relatório, foi responsável por 43% das emissões globais no ano passado, e pode demorar décadas até que seu uso seja reduzido. Aliada do Brasil, a China defende em Varsóvia a responsabilidade histórica de cada país nas emissões de CO2. Os países desenvolvidos rejeitam o debate. Para os EUA, a proposta negligencia a contribuição atual dos países em desenvolvimento na liberação de gases-estufa. Além da China, a Índia é uma das maiores poluidoras do mundo — suas emissões cresceram 7,7% entre 2011 e 2012.
— O plano da responsabilidade histórica depende de muitos aspectos — avalia Peters. — Precisaremos calcular quanto cada país emitiu. Mas a partir de que ano começaria esta conta? Além disso este projeto não baixaria suficientemente as emissões de C02. Para a coordenadora da Câmara de Clima do Conselho Empresarial Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável, Raquel Souza, os países desenvolvidos recusam- se a calcular suas emissões porque, desta forma, perderiam espaço no mercado para as nações em desenvolvimento.
— Se as nações desenvolvidos assumem compromissos mais ambiciosos, isso implica, em um primeiro momento, custos mais elevados para a economia. Desta forma, elas perderiam competitividade para as nações em desenvolvimento — destaca. Alguns negociadores, reunidos na Polônia, acreditam que a COP-19 não trará avanços para a assinatura de um tratado em Paris, em 2015. O documento deve estabelecer um limite para a emissão de gases-estufa em cada país.
ACORDO ‘INEVITÁVEL’ NO FUTURO
O diretor do Programa de Mudanças Climáticas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Osvaldo Stella, acredita que o acordo global é “inevitável, mas a longo prazo”. Mesmo daqui a dois anos, portanto, a comunidade internacional não chegará a um consenso. — o modelo de negociações é lento, e existe uma polarização considerável entre países desenvolvidos e em desenvolvimento — lembra.
— Mas as mudanças climáticas chegarão a um ponto em que uma reação será fundamental, quando os prejuízos econômicos aumentarem. Os últimos meses, segundo Stella, foram marcado pelo retrocesso no debate ambiental. Os EUA reduziram as emissões de C02 com a crescente adoção do gás de xisto, mas esta fonte energética pode levar à contaminação dos lençóis freáticos.
O Japão, por sua vez, alega que o fechamento de usinas nucleares e o acidente em Fukushima, em março de 2011, obrigaram-no a abandonar suas metas de redução de emissões. Entre 2011 e 2012, a liberação de C02 no país cresceu 6,9%. — EUA e Japão mostram como países-chave para a discussão climática estão se reacomodando — alerta o diretor do Ipam. — São cenários novos que agravam problemas antigos.
PAÍSES DEVEM ‘PENSAR NO VIZINHO’
Em vez de metas obrigatórias, as nações desenvolvidas estimulam a proposta de que cada país firme seus próprios limites de redução das emissões. O plano foi condenado pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que chegou ontem à conferência.
— Não podemos perder tempo — condenou, acrescentando uma recomendação aos governantes: — Planejem pensando não apenas em seu país, mas também em seus vizinhos. Além de Ban Ki-moon, ministros de diversos países aterrissaram em Varsóvia, em busca de um acordo que, nos próximos três dias, salve a conferência. Para os negociadores, um dos pontos que serão mais debatidos na reta final da COP-19 será o Fundo Verde.
Países em desenvolvimento cobram um financiamento para que consigam adaptar-se às mudanças climáticas. As nações desenvolvidas comprometeram-se a doar US$ 100 bilhões por ano até 2020 para isso. E uma quantidade irrisória, segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). O órgão estima que apenas a África precisaria de US$ 200 bilhões por ano até 2070 para resolver seus problemas de infraestrutura.