Um estudo australiano revelou que a construção de milhares de quilômetros de estradas na América Latina, na África e na região Ásia-Pacífico deveria ter como base o perigo dos custos ocultos e os problemas ambientais que interferem nelas.
EFE
Até o ano de 2050, a expectativa é de que 25 milhões de quilômetros de vias sejam pavimentadas para veículos em todo o planeta, uma distância que daria para dar mais de 600 voltas na Terra, apontou a Universidade James Cook, com sede no estado australiano de Queensland, em comunicado publicado nesta sexta-feira.
Detalhe da rodovia Transamazônica, no Brasil, cuja obra não foi concluída. EFE/Marcelo Sayão |
"Estudamos os principais projetos de estradas e infraestruturas no mundo todo e é notável como muitos têm altos custos e riscos ocultos", afirmou o professor William Laurance, da universidade.
Para ele, é importante estabelecer como prioridade a revisão dos estradas previstas para as regiões tropicais, onde governos, investidores e pessoas que fazem empréstimos fazem vista grossa para os riscos de expansão viária.
"Aqui é onde a ambição do lucro rápido se encontra com uma engenharia quase impossível", disse Laurance.
Nos países localizados entre os trópicos, onde estão os ecossistemas biologicamente mais ricos do mundo, as chuvas de estação, por exemplo, podem representar um grande desafio.
"As estradas inundadas pelas chuvas desenvolvem buracos, fendas gigantes e deslizamentos de terra tão rapidamente que é quase impossível de acreditar. Em pouco tempo elas podem se transformar em enormes perdas de dinheiro", esclareceu o estudioso.
Nos próximos três anos, as estradas pavimentados terão o dobro da extensão das atuais nas nações em desenvolvimento da Ásia, em parte graças à política impulsionada pela China e conhecida como a "Nova Rota da Seda".
"Muitos caminhos que planejados para regiões úmidas, pantanosas ou montanhosas simplesmente não deveriam ser construídos, isso apenas com base em critérios econômicos", defendeu o especialista da James Cook.
O estudo da universidade também teve a participação da economista Irene Burgués Arrea, da organização Alert Conservation, na Costa Rica.
"Se somarmos os custos ambientais e sociais, o pêndulo oscila ainda com mais força contra as novas estradas, especialmente em áreas de floresta com grandes valores ambientais", destacou ela, que é coautora do trabalho publicado na revista "Science".
Os dois analistas defendem um maior entendimento do impacto das novas construções na sociedade, além dos fatores econômicos e ambientais, para que os benefícios superem os custos. A verdade é que os governos veem nas estradas um fator para acelerar o crescimento econômico e conseguir uma maior integração social, mas estes princípios devem ser estudado dentro de cada contexto local.
"O setor público frequentemente termina com grandes dívidas de estradas fracassadas. Alguns engenheiros e políticos podem se tornar ricos, mas as oportunidades de desenvolvimento vital são facilmente desperdiçadas", explicou Laurance.
Exemplo disso é o impacto do desmatamento da província de Aceh, na Indonésia, e que custa ao Estado US$ 15 milhões por ano por conta das frequentes inundações. Os estudiosos ressaltaram que melhorar o acesso a habitats ameaçados pode ser um golpe fatal para o meio ambiente, já que pode gerar apropriação irregular de terras, caça predatória e mineração ilegal, por exemplo, além de corrupção, especulação e conflitos políticos.