Presidente do Ibama se demite após ministro questionar contrato de aluguel de caminhonetes

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No Twitter, ministro do Meio Ambiente questionou o valor de R$ 28 milhões do contrato, que considerou alto. Presidente do Ibama disse que declaração refletia 'desconhecimento'.


Por Guilherme Mazui | G1 — Brasília

A presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Suely Araújo, pediu exoneração do cargo nesta segunda-feira (7).

Suely Araújo havia assumido o comando do Ibama na gestão do ex-presidente Michel Temer  — Foto: José Cruz/Agência Brasil
Suely Araújo havia assumido o comando do Ibama na gestão do ex-presidente Michel Temer — Foto: José Cruz/Agência Brasil

O pedido foi feito um dia após o novo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ter criticado no Twitter um contrato de locação de veículos do órgão.

Suely assumiu o cargo no Ibama no governo do ex-presidente Michel Temer. No pedido de exoneração (leia a íntegra mais abaixo), ela argumentou que, mesmo antes do presidente Jair Bolsonaro assumir, o nome do seu sucessor já vinha sendo "amplamente" comentado na imprensa e dentro do próprio Ibama.

Procurado pelo G1, o Ministério do Meio Ambiente informou que a "substituição da presidente do Ibama já estava prevista" e que a nomeação de Eduardo Bim para o cargo ´"deve sair nos próximos dias".

Aluguel de caminhonetes

A polêmica em torno do aluguel de caminhonetes começou com uma postagem do ministro do Meio Ambiente no Twitter. Veja a sequência dos fatos:

Ricardo Salles questiona valor de contrato

"Quase 30 milhões de reais em aluguel de carros, só para o IBAMA....", escreveu o ministro no Twitter, neste domingo (6).

Ele se referia a um contrato do Ibama, assinado em dezembro de 2018, no valor de R$ 28,7 milhões para aluguel de caminhonetes a serem usadas pelo órgão.

Bolsonaro comenta declaração de Salles, depois apaga

Também no Twitter, o presidente Jair Bolsonaro chegou a fazer um comentário sobre a declaração de Ricardo Salles. Ao compartilhar o post do ministro, o presidente disse que o governo está desmontando "montanhas de irregularidades".

"Estamos em ritmo acelerado, desmontando rapidamente montanhas de irregularidades e situações anormais que estão sendo e serão COMPROVADAS e EXPOSTAS. A certeza é; havia todo um sistema formado para principalmente violentar financeiramente o brasileiro sem a menor preocupação!", escreveu o presidente.


Texto que Bolsonaro escreveu no Twitter, sobre declaração do ministro do Meio Ambiente, e depois apagou — Foto: Reprodução/Twitter
Texto que Bolsonaro escreveu no Twitter, sobre declaração do ministro do Meio Ambiente, e depois apagou — Foto: Reprodução/Twitter

Depois, Bolsonaro apagou o texto e manteve apenas o compartilhamento da mensagem do ministro.

Suely responde por meio de nota divulgada pelo Ibama

No mesmo dia, a presidente do Ibama disse em nota que refutava com “veemência qualquer insinuação de irregularidade na contratação”. Ela explicou que o contrato previa aluguel de 393 caminhonetes adaptadas para fiscalização e atendimento a emergências ambientais (como incêndios), que seriam usadas nos 26 estados e no Distrito Federal. Suely também disse que o contrato foi aprovado pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

“A acusação sem fundamento evidencia completo desconhecimento da magnitude do Ibama e das suas funções. O valor estimado inicialmente para esse contrato era bastante superior ao obtido no fim do processo licitatório, que observou com rigor todas as exigências legais e foi aprovado pelo TCU”, disse Suelly na nota.

Ricardo Salles diz que não levantou suspeita sobre o contrato

Ainda neste domingo, novamente no Twitter, Ricardo Salles afirmou que não levantou suspeita sobre o contrato, mas quis chamar atenção sobre o valor, que considerou elevado.

"Não levantei suspeita sobre o contrato, apenas destaquei seu valor elevado, conforme meus esclarecimentos na própria postagem. O valor elevado também foi questionado pelo TCU desde abril e, portanto, não precisava ser assinado a dez dias da troca de governo", escreveu o ministro.

Leia a íntegra do pedido de demissão da presidente do Ibama:

Excelentíssimo Senhor Ministro,

1. Cumprimentando-o cordialmente, sirvo-me do presente para formalizar minha solicitação de exoneração do cargo de Presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

2. Considerando que a indicação do futuro Presidente do Ibama, Sr. Eduardo Bim, já foi amplamente divulgada na imprensa e internamente na Instituição ainda em 2018, antes mesmo do início do novo Governo, entendo pertinente o meu afastamento do cargo permitindo assim que a nova gestão assuma a condução dos processos internos desta Autarquia.

3. Assim, comunico que a partir de amanhã, 08 de janeiro, não exercerei mais as funções de Presidente do Ibama. Nesse sendo, solicito que quando da publicação do ato, nele conste que trata-se de exoneração a pedido com efeitos a partir de 08/01/2019.

Respeitosamente, Suely Araújo

Mudanças no Meio Ambiente

Na nova configuração dos ministérios, promovida pelo governo de Jair Bolsonaro, o Ibama continuou vinculado ao Ministério do Meio Ambiente. Outros órgãos foram transferidos de pasta. É o caso do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), que saiu do Meio Ambiente e foi para a Agricultura. Uma das atribuições do SFB é trabalhar pela recuperação da vegetação nativa e recomposição florestal.

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