Europeus questionam o biodiesel

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Por Paula Scheidt, do CarbonoBrasil

Quando o assunto é energia alternativa brasileira, o carro-chefe escolhido pelo governo é o Biodiesel, que foi inclusive um dos temas explorados pela comitiva de Lula no Fórum Econômico Mundial, realizado em Davos, Suíça, na semana passada. A grande questão que agora se levanta, no entanto, é se os biocombustíveis podem substituir os fósseis de uma maneira ambientalmente correta e sustentável.

Políticos europeus do partido verde lançaram nesta terça-feira (30) uma campanha contra a promoção desprotegida do que chamam “combustíveis vegetais”, aqueles que são produzidos a partir da colheita agrícola. O argumento do grupo é que estudos mostram que esta opção pode retirar mais energia para produzir do que oferece em retorno. O total de biodiesel produzido na Europa já ultrapassa 1 bilhão de litros por ano, tendo crescido à taxa anual de 30% entre 1998 e 2002.

O “pacote de energia e mudanças climáticas” lançado pela Comissão Européia de Meio Ambiente no início do mês (10 de janeiro) trazia que 10% do combustível para transportes da União Européia viria de biocombustíveis em 2020. O Biodiesel e etanol são produzidos principalmente a partir de colheitas agrícolas como cana de açúcar e milho.

Estas plantações, no entanto, tem um uso intensivo de água e apresentam um grande número de problemas ambientais relacionados ao uso do solo e degradação.

Por isso a Comissão é favorável ao uso dos chamados combustíveis de “segunda geração” que são mais eficientes e menos problemáticos do ponto de vista ambiental. Eles normalmente são obtidos a partir de resíduos da madeira e podem se tornar produtos de grande valor agregado como os bioplásticos e outros materiais ‘verdes’.

Na Europa, a Dinamarca está na frente no desenvolvimento de biocombustíveis eficientes energeticamente, com o anúncio em junho do ano passado de que iria construir a maior biorefinaria européia de etanol a partir de celulose. O projeto foi orçado em mais de 40 milhões de euros.

Desmatamento e a fronteira agrícola

Porém outro ponto que tem aumentado as preocupações é o impacto da agricultura. Os políticos afirmam que o grande empurrão para os biocombustíveis pode empurrar a terra para o setor alimentício.

“Os combustíveis das plantas são largamente divulgados como a solução para os problemas com a dependência do petróleo e mudanças climáticas, enquanto são lentamente empurrados na União Européia como a maneira de oferecer subsídios para agricultores europeus”, disse o vice-presidente do Comitê de Agricultura do Parlamento Alemão, Friedrich Wilhelm Graefe zu Baringdorf.

“Desviar os escassos recursos de alimentos das mesas de jantar para os tanques de gasolina irá aumentar a pressão no preço dos alimentos globalmente, significando que os mais pobres irão passar fome”, afirmou.

Os políticos do partido verde também argumentam que o desenvolvimento de biocombustíveis na Europa trará impactos para países como o Brasil, onde a floresta tropical será invadida para se obter mais terra para a agricultura. Somado a isso está o custo do transporte do etanol para a Europa, que aumentaria as emissões de dióxido de carbono (CO2).

A preocupação foi ecoada pela Comissão Européia. Em discurso na terça-feira (29), o comissário de meio ambiente, Stavros Dimas disse que se o uso de biocombustíveis significassem uma maior derrubada da floresta para abrir caminho para as plantações, esta opção de energia não seria aceita. “É inaceitável que para se colocar no mercado este combustível, no processo de produção se emita tanto CO2 quanto irá se economizar depois. É imperativo que se desencoraje o uso de produção insustentável”, afirmou.

O lado brasileiro

O governo afirma que o Programa Biodiesel utiliza apenas terras inadequadas para o plantio de gêneros alimentícios. A área plantada necessária para atender ao percentual de mistura de 2% de biodiesel ao diesel de petróleo (Lei 11.097, de janeiro de 2005) é estimada em 1,5 milhão de hectares, o que equivale a 1% dos 150 milhões de hectares plantados e disponíveis para agricultura no Brasil.

Segundo o governo brasileiro, a grande diversidade de opções para produção, tais como a palma e o babaçu no norte, a soja, o girassol e o amendoim nas regiões sul, sudeste e centro-oeste, e a mamona, que além de ser a melhor opção do semi-árido nordestino, é um fator que beneficia o país na escolha desta fonte de energia.

“A cadeia produtiva do biodiesel tem grande potencial de geração de empregos, promovendo, dessa forma, a inclusão social, especialmente quando se considera o amplo potencial produtivo da agricultura familiar. No Semi-Árido brasileiro e na região Norte, a inclusão social é ainda mais premente”, trás o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB). A ANP estima que a atual produção brasileira de biodiesel seja da ordem de 176 milhões de litros anuais.

Apesar disso, um estudo do Ministério da Ciência e Tecnologia, a partir da superposição de mapas de desflorestamento a mapas de vegetação das áreas que estão sofrendo processo de ocupação indesejada, mostra claramente que o avanço do desflorestamento está ocorrendo em uma região tipicamente de cerrado e cerradão, ou seja, corresponde ao avanço da fronteira agrícola.

Outros resíduos - madeira

Não é apenas as dúvidas quanto a sustentabilidade da produção que povoam a cabeça dos políticos europeus. O grupo se preocupa com o aumento da competição por madeira. Um estudo também apresentado ontem pela Confederação Européia da Indústria de Celulose e Papel argumenta que é quatro vezes mais viável economicamente usar a madeira como fonte para a produção de papel que para a energia.

“Como resultado do gerenciamento sustentável das florestas, a Europa teve um ganho de mais de quatro mil campos de futebol por dia”, diz o estudo. Apesar disso, a Confederação diz que seria um novo desafio para a indústria a competição por madeira para a bio-energia.

Mas nem todos são contra. A empresa de biotecnologia EuropaBio afirma que fazer combustível de etanol a partir de biomassa já é uma realidade. “Graças ao uso de enzimas para quebrar as moléculas, o uso de lixo florestal e recursos da agricultura desperdiçados podem ser aproveitados, oferecendo uma oportunidade para lucros alternativos na agricultura”, diz a empresa.

CarbonoBrasil com agências internacionais (Envolverde/Carbono Brasil)

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