Novo aeroporto ameaça mata atlântica em MG

0
Construção de terminal na zona de amortecimento do Parque do Rio Doce acende polêmica sobre proteção e desenvolvimento



Luciane Evans


Uma das principais reservas de proteção à biodiversidade de Minas Gerais, o Parque Estadual do Rio Doce (Perd) está na polêmica entre o que é considerado ameaça ambiental e o que é desenvolvimento sustentável.

A Usiminas, uma das maiores siderúrgicas do país, pretende construir, até 2009, um aeroporto, o segundo maior em extensão do estado, na zona de amortecimento do Perd, no município de Bom Jesus do Galho, na Região do Rio Doce. O projeto, em fase inicial de licença prévia no Sistema Estadual de Meio Ambiente (Sisema), tem sido criticado pela comunidade científica, que alega que o empreendimento trará impacto negativo na preservação do meio ambiente, atingindo o maior remanescente de floresta contínua de mata atlântica de Minas. A siderúrgica garante que o novo negócio é um vetor de desenvolvimento sustentável para a população local.

Para analisar os prós e contras do projeto, ocorre hoje, às 18h, em Bom Jesus do Galho, audiência pública com a presença de moradores locais, biólogos, ambientalistas e técnicos da Usiminas.

“O primeiro impacto negativo é que, além de estar a 100 metros do Parque Estadual do Rio Doce, parte da construção estará na Área de Preservação Permanente e dos lagos”, ressalta Luiz Gustavo Dias, biólogo do Instituto Biotrópicos de Pesquisa em Vida Silvestre, que teme pelos danos irreparáveis, como o afugentamento de aves, répteis e mamíferos.

“Só de mamíferos, há 77 espécies que habitam o Perd. A área de mata atlântica totaliza 36 mil hectares de florestas, entremeadas com cerca de 130 lagos nos mais variados estágios de evolução.

Tudo isso poderá acabar já que o aeroporto não ficará isolado por muito tempo, pois empreendimentos chegarão para dar suporte, como galpões de armazenamento, indústrias, maquinaria pesada e hotéis.

Sem contar a pavimentação das estradas de terra, o aumento do fluxo de carros, caminhões, carretas e outros. Pode-se imaginar a sinergia de impactos para um ambiente ímpar como o Perd, com o barulho de pousos e decolagens diárias?”, argumenta.

Segundo o engenheiro de Estudo e Análise de Investimento da Usiminas, Geraldo Barroso, não é preciso temer, pois o empreendimento não causará prejuízos ao parque.

“Pelo contrário, trará o desenvolvimento sustentável para a população local”, frisa. “O negócio é fruto da necessidade da empresa, que vai desativar o aeroporto de Santana do Paraíso, para construir uma usina com produção de 5 mil toneladas de aço/ano, até 2012. Pesquisamos cerca de 100 áreas em Minas e a única que atende às exigências da Agência Nacional de Aviação Civil é essa na zona de amortecimento do parque”, explica.

O custo do aeroporto é estimado em R$ 80 milhões, num terreno que foi área de manejo da Cenibra e já adquirido pela Usiminas. Segundo Barroso, a intenção é concluí-lo até 2009. Até 2012, serão cerca de 350 mil passageiros usando a rota. “Inicialmente, será voltado apenas para embarque e desembarque de pessoas, mas pode haver, no futuro, investimento no transporte de cargas. As pistas serão de 2,7 mil metros de extensão e 45 metros de largura. A área patrimonial é de 510 hectares, distante 600 metros do parque”, esclarece. Para mitigar os impactos, o engenheiro da Usiminas garante que será feito um plano de gestão ecológico e econômico da área do parque. “Vamos investir em ecoturismo, proteger quatro quilômetros às margens do Rio Doce, recuperar a mata ciliar local e criar um cinturão verde no seu entorno”, assegura.

LICENCIAMENTO

De acordo com o biólogo e gerente do Parque Estadual do Rio Doce, Marcos Vinícius de Freitas, “o conselho consultivo do parque é a favor da proposta, mesmo encontrando 17 condicionantes de impacto”. “Estamos na fase de discussão e análise. Amanhã (hoje) isso será discutido em audiência pública, uma ação comum nas fases de licenciamento ambiental”, explica, ressaltando que a preocupação com as conseqüências que o negócio pode causar é constante. “Mesmo aprovado pelo conselho, a comunidade científica faz ressalvas ao projeto e as críticas são bem-vindas”, acrescenta.

Segundo informou a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), o empreendimento foi classificado pelos técnicos do Sisema como sendo de grande porte e com o maior índice poluidor, ou seja, de Classe 6. O empreendimento está em análise técnica e jurídica para elaboração de parecer. Depois da audiência pública hoje, o processo será julgado pelo Conselho de Política Ambiental (Copam).

Postar um comentário

0Comentários

Please Select Embedded Mode To show the Comment System.*

#buttons=(Ok, vamos lá!) #days=(20)

Nosso site usa cookies para melhorar sua experiência. Check Now
Ok, Go it!