Gripe expõe falhas na estratégia internacional para lidar com saúde

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OMS não tem conseguido contabilizar casos e mortes e também não fechou protocolo de distribuição de vacinas

Jamil Chade – O Estado de São Paulo

A pandemia de gripe suína revela que ainda não existe uma coordenação internacional para lidar com problemas globais de saúde. Pressionada politicamente e refém de interesses comerciais, a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma agência da Organização das Nações Unidas (ONU), não conta com uma estratégia de vacinação nem de distribuição de antivirais. Além disso, não conseguiu contabilizar os casos de gripe a contento nem criar um fundo para lidar com a doença.

Ontem, a OMS decidiu publicar novos números de casos. Seriam 134,5 mil em todo o mundo, com 816 mortes. Mas esses números são de 22 de julho e só foram divulgados cinco dias depois. A região mais afetada seria o continente americano, com 87,9 mil casos, contra 16,5 mil na Europa e 21,5 mil no Oeste Pacífico. As Américas teriam mais de dois terços dos casos e 86% das mortes, com 707 óbitos entre os 816 contabilizados.

Mas o próprio comunicado deixa claro que os números não representam a realidade. Só no Reino Unido seriam mais de 100 mil casos e 1 milhão nos Estados Unidos. Os desencontros da OMS foram inúmeros em pouco mais de três meses.

Além disso, a OMS não recomenda se escolas devem ou não ser fechadas. Na semana passada, o órgão admitiu que o maior número de casos foi inicialmente registrado em pessoas entre 12 e 17 anos, mas que, com a expansão da doença, a média de idade havia subido. Fechar escolas teria uma função, mas com custos proibitivos. Portanto, não recomendou estratégia.

Outra confusão se refere aos números de vítimas. A princípio, a OMS pediu que os governos reportassem os casos. Semanas depois, a entidade pediu aos países que não enviassem todos os dados, pois não conseguiam processá-los. O argumento oficial era de que os governos não deveriam gastar recursos com testes e que só mortes deveriam ser registradas. Mas ontem a OMS voltou a publicar dados, agora regionais. Na própria OMS, funcionários dizem que não há controle do que é recomendado nem qual mensagem deve ser passada.

VACINA

A entidade também não consegue montar uma estratégia de vacinação. Originalmente, a diretora da OMS, Margaret Chan, afirmou que a vacina teria de começar a ser produzida assim que decretada a pandemia. Quando isso ocorreu, Chan mudou de ideia porque as empresas deveriam concluir a produção de vacinas sazonais que já estava em andamento. Agora, ela está de férias. A OMS convocou então farmacêuticas de todo o mundo para que fosse montada uma estratégia de vacinação e de distribuição de antivirais. Três meses depois, não há estratégia. "Não temos uma política para isso, vamos explorar todas as opções?, diz o porta-voz Gregory Hartl.

Mesmo que essas vacinas chegassem hoje, a OMS não definiu quem deve ser vacinado primeiro. A única recomendação é para que pessoas que trabalham nos sistemas de saúde sejam os primeiros, para permitir que os serviços sigam funcionando. A OMS deixou claro que é contra quebra de patentes para a fabricação de remédios.

IDAS E VINDAS

Nomes: Em três meses de doença, foram três nomes. Nos primeiros dias, era gripe suína. Após protestos, a OMS mudou o nome para gripe A(H1N1). No mês passado, a terceira mudança: gripe pandêmica A(H1N1) 2009

Pandemia: A OMS anunciou em abril que declararia pandemia quando o vírus chegasse a mais de dois continentes. Mas a pandemia só foi declarada em 11 de junho, quando havia quase 30 mil casos em mais de 70 países

Contagem de vítimas: A OMS decretou a primeira pandemia do século 21 pedindo inicialmente que todos os governos reportassem os casos da gripe suína à entidade. Mas há duas semanas alertou que não havia mais como contar caso a caso e anunciou que não publicaria mais números. Ontem, voltou a publicar números, agora regionais

Vacina: A entidade não consegue montar uma estratégia de vacinação. Não há plano de distribuição nem fundos nem quais populações serão priorizadas

País deve importar 36mil doses de vacina

O Instituto Butantã pretende negociar até segunda-feira a compra de 36 mil doses de vacinas – metade para gripe sazonal e metade para A(H1N1),afirma Isaías Raw, presidente da Fundação Butantã.

O produto serviria para imunizar profissionais de saúde que participam do esforço de combate à doença.

"É a prioridade em todos os países", aponta Raw. As vacinas viriam envasadas, o que inviabiliza a adição de adjuvantes – substâncias que aumentam o rendimento e permitem imunizar mais pessoas.

Raw recorda que ainda não recebeu as cepas atenuadas do vírus A(H1N1) para a produção da vacina. O instituto informou ter estrutura para fabricar 44,3 milhões de doses em um ano. No próximo dia 3, haverá reunião como Ministério da Saúde para decidir o tipo e a quantidade da vacina que deverá ser produzida.

(ALEXANDREGONÇALVES)

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