Europa cobra de Lula ação na Amazônia

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Brasil e União Europeia discutem hoje propostas que levarão à conferência da ONU sobre aquecimento global no fim do ano

Silvio Queiroz
Enviado especial - Correio Braziliense

Estocolmo — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou na noite de ontem à capital sueca, onde participa hoje da 3ª Cúpula Brasil-União Europeia (UE), respondendo às cobranças dos países desenvolvidos sobre a contenção do desmatamento na Amazônia — as mudanças climáticas estão entre os pontos centrais do encontro. Lula argumentou que todos os países têm suas responsabilidades e que a cobrança não deve ser feita apenas às nações com grandes áreas florestais. "Os países ricos não podem continuar achando que os países pobres têm de preservar as florestas enquanto eles continuam crescendo", disse o presidente na chegada ao Grand Hotel de Estocolmo.

Coordenar posições para a conferência que as Nações Unidas promovem em dezembro em Copenhague — de onde sairá um novo acordo sobre o aquecimento global, que sucederá o Protocolo de Kyoto — é um dos principais assuntos das conversas de Lula com o presidente da Comissão Europeia (CE), braço executivo da UE, José Manuel Durão Barroso. O presidente brasileiro sustentou que a ONU deve monitorar as emissões de gás carbônico de cada país, para que esses dados indiquem "o quanto cada um tem de reduzir". "É preciso fazer com que todos os países, Brasil, Botswana e Namíbia, assumam sua responsabilidade."

Lula e Barroso têm um encontro em separado e outro acompanhados de auxiliares. Além disso, se reúnem com um grupo de executivos brasileiros e europeus, nos marcos de um fórum empresarial, e com representantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) e seu equivalente, o Comitê Econômico e Social Europeu. Como anteciparam fontes de alto nível em Bruxelas, Barroso espera do colega brasileiro "uma proposta concreta" pela qual o Brasil se comprometa com objetivos precisos no combate ao aquecimento global.

As conversas sobre a mudança do clima estão entre os assuntos que o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, aponta como "resultados concretos" que deverão sair das cúpulas de hoje em Estocolmo — à tarde, em encontro bilateral com o primeiro-ministro Fredrik Reinfeldt, Lula discutirá a parceria estratégica entre Brasil e Suécia. "Vocês querem alguma coisa mais concreta do que o ar que vocês respiram?", perguntou o chanceler aos jornalistas. Ainda sobre a questão ambiental, o ministro citou os planos conjuntos com a UE para programas triangulares de cooperação com países africanos interessados nos biocombustíveis, nos moldes da iniciativa com a Suécia, que importa de Gana etanol produzido com assistência brasileira.

Amorim ressaltou também as discussões sobre a Rodada de Doha, para liberalização do comércio mundial, e as gestões para retomar negociações sobre um acordo de livre comércio entre a UE e o Mercosul — mas fez questão de frisar que o processo não será oficializado na capital sueca, mesmo porque o Brasil não está exercendo a presidência do Mercosul.

Até o fim de semana, os sherpas — como são chamados, na linguagem diplomática, os funcionários que trabalham na formulação de acordos e declarações — continuavam negociando os termos da declaração, final que será assinada pelos dois presidentes. E, segundo confidenciam em Bruxelas os negociadores europeus, alguns itens seguiam pendentes. Um exemplo era a intenção do Brasil de incluir no texto uma referência a esforços conjuntos contra o comércio ilegal de madeira, uma resposta à cobrança europeia de maior rigor quanto ao desmatamento da Amazônia.
 
"O Brasil e a União Europeia se enfrentam em um contexto de negociações", disse a jornalistas brasileiros um eurocrata de nível intermediário, envolvido diretamente com as relações bilaterais. Na questão do aquecimento global, que o lado brasileiro classifica como "ponto central da cúpula de Estocolmo", esse funcionário europeu aponta como objetivo encontrar os termos para "dar ao mundo um sinal político conjunto". O endereço prioritário seriam os Estados Unidos e outros países desenvolvidos que, na visão de Bruxelas, "resistem a adotar metas obrigatórias de redução das emissões de gases causadores do efeito estufa".

Iniciativas

Pelo lado brasileiro, como definiu um diplomata de escalão elevado, a avaliação sobre as relações com a UE é de que "foi feita muita coisa" desde a cúpula do ano passado, no Rio de Janeiro, onde foi assinado o plano de ação da parceria estratégica — um status de relação que equipara o país à Rússia, à Índia e à China, sócios do Brasil no Bric. Com 16 mesas de diálogos setoriais instaladas, e contatos frequentes entre representantes técnicos e políticos de diferentes níveis, as iniciativas se sucedem.

A parte da revisão política do andamento da parceria e a expressão de coincidências sobre temas relevantes da agenda mundial, que se traduzirá na declaração final, a expectativa mais concreta em Estocolmo é para que seja acertado o acordo de isenção recíproca de vistos com os últimos quatro países da UE onde o documento ainda é exigido (Letônia, Estônia, Chipre e Malta). Os dois lados concluíram também as negociações políticas para um acordo de cooperação científica pelo qual pesquisadores brasileiros trabalharão em projetos europeus de fusão nuclear, mas detalhes técnicolegais impedem que o documento esteja pronto para assinatura em Estocolmo.

Proposta verde

A Europa tem pronta para levar a Copenhague, em dezembro, uma proposta que considera "a mais avançada" para um novo acordo internacional sobre as mudanças climáticas, substitutivo ao Protocolo de Kyoto. A UE compromete-se a reduzir suas emissões de gases estufa em 20%, ate 2020, com base nos níveis de 1990, além de propor um fundo internacional para ajudar nações em desenvolvimento a buscar formas de energia mais limpas.

O repórter viajou a convite da Comissão Europeia

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