A análise das folhas de um certo tipo de alga existente no oceano Ártico permite obter um histórico de 650 anos da presença de uma cobertura de gelo que se estende sobre a região — uma análise nunca antes possibilitada por sistemas desenvolvidos pelo homem, que só conseguem abranger um período menor de tempo, de poucas décadas.
A descoberta foi feita por pesquisadores da Universidade de Toronto, no Canadá, que apontam que a espécie Clathromorphum compactum teria a capacidade de "documentar" os níveis de gelo existente sobre o mar polar do hemisfério Norte da mesma forma que árvores armazenam dados referentes a chuvas nos anéis internos de seus troncos.
A novidade é destacada pelo periódico científico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) nesta segunda-feira (18).
Para os autores do estudo, liderado pelo pesquisador Jochen Halfar, a descoberta permite afirmar que entre a metade do século 16 e a metade do século 19, a presença de gelo sobre o Oceano Ártico teve níveis variados mas, em geral, estáveis.
Desde 1850, entretanto, essa cobertura glacial vem exibindo sucessivos e constantes declínios, alertam os cientistas no estudo.
Essa observação deve ajudar no entendimento das mudanças climáticas ocorridas no mundo nos últimos seis séculos e meio e permitir melhores previsões de variação climática a ser vista no planeta.
Camadas de calcita
A Clathromorphum compactum desenvolve sucessivas camadas do mineral calcita a cada ano conforme a luz recebida do sol. Sua fotossíntese, no entanto, perde intensidade e é pausada quando a cobertura de gelo sobre o mar ganha grande extensão, bloqueando os raios do sol, que deixam de chegar às profundidades dos mares.
Dados sobre a temperatura das águas também podem ser obtidos pela análise das folhas da alga, devido à proporção de magnésio e cálcio presentes nelas.